2009/09/14

HÁ OU NÃO FÉ NO ACASO?

Muitas vezes os defensores do Design Inteligente (DI) apontam o problema da Evolução se basear num processo cego e aleatório (o acaso) e, como tal, incapaz de gerar a evidente complexidade da vida.

Muitos (incrivelmente) subestimam esse aparente design da vida, mas não Richard Dawkins.
No livro The Blind Watchmaker (O Relojoeiro Cego), afirma que “a complexidade dos seres vivos encarna a própria antítese do acaso”.

Então como surgiu a vida? Cito a resposta do autor:
A resposta de Darwin é que aconteceram transformações graduais de um início simples, de entidades primordiais suficientemente simples para terem surgido por acaso. Cada mudança sucessiva no processo evolutivo gradual foi suficientemente simples para, relativamente à mudança anterior, ter acontecido por acaso. (realce meu)

Para já vou deter-me na aceitação do acaso para gerar vida; as transformações graduais ficam para outro post. (aqui)

1. Dawkins parece sugerir que a vida surgiu do acaso, só que de forma tão simples que não seria difícil.
Agora pergunto (para não falar da questão das probabilidades): existe vida simples?
Mesmo uma elementar amiba tem uma complexidade incrivelmente superior à de qualquer mecanismo que tenhamos criado.

2. Mas as “entidades primordiais” poderiam não ser vida.
Questiona-se não só de onde vieram(mesmo que tenham vindo “de fora” isso implica que tenham aí surgido de alguma forma), mas também – e principalmente – como geram vida.
Não existem sequer evidências de que “não-vida” possa dar origem a vida espontaneamente. Será o ainda não comprovado nem experimentado processo de Abiogénese?

“… Anos de experimentação sobre a origem da vida nos campos da evolução química e molecular conduziram a uma melhor percepção da vastidão do problema da origem da vida na Terra, em vez de darem a solução” (Klaus Dose)

3. Pode acontecer que o sentido que o autor dá à palavra acaso não seja exactamente o mesmo que lhe atribuímos habitualmente.
Talvez seja isso.
Dawkins admite mais tarde que “o processo cumulativo é dirigido pela sobrevivência não aleatória”. O seu objectivo é demonstrar o poder dessa selecção natural cumulativa enquanto um processo não aleatório (que não é ao acaso).

Ok, que a selecção natural não seja aqui taxada como “cega” ou “aleatória” tudo bem. Só que a selecção natural poderia quanto muito ser usada para explicar a evolução e não o SURGIR da vida.
Como se aplica a selecção natural para a origem da vida se apenas pode ser aplicada à vida (“sobrevivência”)? Não se aplica.


Então parece que a única hipótese alternativa à existência de Deus para o surgir da primeira vida é mesmo o acaso. Não deixa de ser uma forma de . Sem evidências, sem experimentação nem observação…

Não podemos dizer que esta linha de raciocínio tenha tanto valor científico como se quer por vezes fazer parecer.
Deveria ser considerada uma questão em aberto: se a Teoria do DI não é método científico e a Teoria da Evolução também não, devia-se imparcialmente submeter ambas às evidências para descobrir qual a mais provável.

A verdadeira ciência não contradiz Deus (poderia não provar nada, mas nunca negará), a menos que seja moldada por homens comprometidos com os seus próprios “sistemas religiosos” (com ou sem Deus, ateus ou teístas) ao ponto de negarem evidências e contrariarem o método científico.

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